[Condoreirismo explicação]

terça-feira, 21 de agosto de 2012

Ainda montados ou já pensantes?


  Foi-se o tempo do voto de cabresto. Hoje em dia somos livres, nosso voto é secreto e manifestamos livremente nossa opinião e escolhemos o candidato que melhor nos convém. Será? Essa liberdade forjada que esconde por trás de seus véus a triste situação da política brasileira, sequer nos permite escolher se queremos ou não votar. Em clima de eleições, no momento, é bom refletir: Será que estamos no caminho certo?

  A medida que o tempo avança e a situação política parece tender para uma melhora, os políticos, justificados por Lavoisier, se adaptam ao sistema para conseguir de certa forma manter a alienação da população e assim conseguir manipulá-la mais facilmente. Se hoje em dia, o controle do voto de um eleitor não é feito fisicamente, vendo-se no ato como há cem anos atrás, este é feito de modo psicológico.

  Exemplo disso é o programa do Bolsa Família que, aparente e momentaneamente, melhora a vida de milhares de famílias pobres que se encontram nesta situação de alienação. Desse modo, acreditam estar sendo ajudados por quem lhes-las-fornecem. Não passa de uma simples e vil prática de compra de votos, pois assim quem as recebe, vota no político fornecedor. O velho, porém renovado, voto de cabresto.

  A jornalista Hildegard Angel, em 2010, por exemplo, fez às vésperas das eleições para a presidência, uma entrevista com uma senhora cearense de condições humildes. Fez-lhe uma série de questões simples como: o que é voto?; o que é eleição; e, por incrível que pareça, o que é presidente da república?; ao que a modesta senhora não soube responder. Contudo, ao ser questionada sobre quem votaria, encheu o peito e respondeu: “Em quem o seu Lula mandar”. Questionando-se-lhe a razão, argumentou que com o Bolsa Família dado pelo então presidente, sua vida melhorara consideravelmente. Tanto que, inclusive, seu marido parara de trabalhar.

  Este, infelizmente, não é um fato isolado. É às custas da alienação dessa maioria da população, provocada pelos próprios políticos, que estes conseguem se manter no poder. Algo deve ser feito, não se pode estagnar desta forma. Uma reforma política é necessária e somos nós, o povo brasileiro, responsáveis por isto. Eduque-se, informe-se e vote conscientemente nestas e nas próximas eleições. Não venda seu voto nem o troque por favores. Sua cidadania vale bem mais do que uma cesta de comida!

Igualdade Igualitária ?


  A política de cotas no Brasil iniciou-se no governo de Fernando Henrique Cardoso e foi perpetuada pelo Governo Lula. Ela consiste na criação de parte das vagas das universidades serem destinadas aos negros, ou população de baixa-renda, que se confunde no nosso país.
  Tal questão deve-se a herança da escravidão, processo através do qual criou-se mão-de-obra para trabalhar em diversos ciclos econômicos brasileiros, inclusive no café do Vale do Paraíba. O tráfico de negros, provenientes do continente africano torna-se mais fraco com a Lei Eusébio de Queiroz, que o proíbe em 1850 e quase no fim do século é declarado o fim oficial da escravidão com a Lei Áurea. Devido a pouca mobilidade social imposta pelo sistema capitalista e pela sociedade, muitas vezes racista, muitos negros hoje formam a população residente em favelas, palafitas e até nas ruas.
  É justamente contra essa imobilidade social que as cotas agem, e aqueles que as defendem creem que com ela podemos alcançar maior nível de homogeneidade na população. Outros, porém, afirmam que as cotas simplesmente vão contra o direito, ao ferir o conceito de igualdade presente na Constituição. Igualdade presente na lei, ao mesmo tempo ausente na prática. Qual lado estaria com a razão ?
 Recentemente, foi anunciado um projeto de lei que consiste na seleção de 50% de cotas para negros, fato que reaqueceu a polêmica e trouxe a mídia depoimentos de alguns especialistas.
 Segundo o professor de economia da UFMG, Cláudio Gontijo, com esta nova lei, poderá haver reprovação em massa com a nova medida, visto que dentro das universidades não podem haver distinção dos alunos, seja nas aulas ou na correção das avaliações. Muitas vezes um aluno que chegou à faculdade através de cotas e cursou colégio público não tem base para ir adiante, mesmo com muito esforço, devido a precariedade do ensino oferecido pelo Estado hoje no nosso país. Um estudo recente mostra que 90% destes alunos, após concluir o ensino médio não sabem identificar numa circunferência o raio e o diâmetro, por incrível que pareça.

"Eu acho que essa medida vai prejudicar ainda mais a qualidade do ensino em franco processo de deterioração. Em geral, os alunos são muito piores hoje que 10 anos atrás. A qualidade tem caído muito. Não precisamos rebaixar os critérios de entrada de avaliação porque os alunos não estão recebendo ensino adequado. Não adianta haver cotas que o aluno entra e toma bomba. Logo você vai estabelecer que empresas tem que contratar pessoas que não estão preparadas. Eu já tive que dar bomba em muito aluno. A UFMG tem cota hoje para negros e pardos. Na hora de corrigir a prova, você não pode nem quer saber se o aluno é de cota ou não. Dentro de sala, você não pode discriminar. Então não adianta facilitar a entrada". Cláudio Gontijo

 Outros por sua vez, creem que as cotas resolvem o problema de exclusão, como Erastro Fortes, membro do Conselho Nacional de Educação (CNE). Ele afirma que aqueles que nunca tiveram oportunidades, as agarram com força quando tem.

"Construiu-se o mito que a universidade é para a elite e qualquer pobre que entra desqualifica o ensino superior. As cotas são amplamente benéficas para o país e as universidades. Isso se provou com as cotas da Universidade de Brasília (para negros e pardos, desde 2004). Algumas pessoas diziam que elas iam desqualificar o ensino. O que se provou é que os negros que entraram têm rendimento igual ou superior aos que entraram pelo sistema universal (o vestibular). Gente que nunca teve oportunidade na vida, quando tem, agarra com força. Eu acho que o que vai haver é a democratização mais ampla do espaço universitário. Com a aprovação desta lei, a gente completa um ciclo de políticas afirmativas de ingresso no ensino superior". Erastro Fortes
  
A crítica feita pela sociedade como um todo consiste no fato de que o sistema educacional deveria ser consertado no início, nos colégios e não nas universidades, para que desta maneira, todos pudessem ser de fato iguais, não apena na lei, mas também na prática. Desta forma, os melhores seriam qualificados e não apenas os que tiveram oportunidades na infância e adolescência.

Freedom, sweet freedom


"Liberdade, liberdade!
Abra as asas sobre nós
E que a voz da igualdade
Seja sempre a nossa voz"

O samba enredo da Imperatriz vencedor de 1989 retrata uma crítica social ansiando por igualdade, um grito do povo brasileiro contra a segregação e a injustiça que era feita aos filhos da terra. Estas reivindicações não são, como demonstrado, algo recente, mas fazem eco a alardes iniciados há dois séculos, quando o Brasil ainda se encontrava como recém-nascido enquanto império livre de Portugal.

No século XIX, em meio ao movimento romântico, percebe-se a existência de poetas que faziam duras críticas à sociedade da época. Essa subdivisão pertencente à terceira parte, denominou-se condoreirismo e contou com nomes consagrados como Castro Alves, Sousândrade e Tomás Barreto. Esse sedento desejo de liberdade é característico do mundo liberal e alimentado por um mundo em um processo de constantes revoluções e movimentos de independência. A princípio, com Castro Alves, era possível notar-se um caráter antirracista, voltada para a questão da escravidão, a nuvem que assolava o céu azul do território brasileiro, recém independente e liberal.

Contudo, ao longo do tempo e com o fim da escravidão promovido pela princesa Isabel, foi ocorrendo uma diversificação nos temas alfinetados pelos escritores e poetas. A desigualdade, não só entre raças, mas de qualquer gênero, ainda é um tema bastante recorrente. Entretanto, percebe-se que assuntos como responsabilidade ambiental, a questão governamental, entre outros vêm sem dúvida ganhando espaço em decorrência do avanço da própria sociedade e suas deficiências.

Nosso objetivo aquí é justamente denunciar essas deficiências em prol do bem coletivo, para que estas imperfeições sejam corrigidas e melhoremos cada vez mais tendendo para uma sociedade onde haja uma cooperação voluntária entre os cidadãos. Um lugar onde o respeito seja não só para com os outros, mas com todo o ambiente que nos cerca também. Um lugar atualmente considerado utópico, mas que pode sim ser alcançado. Afinal de contas, para quem acredita que nada é impossível, o que custa sonhar?

Black Power



Por muito tempo o mito da superioridade da raça branca prevaleceu. O mar gigante imensurável foi para a África um lugar de muitas perdas, aterrorizante e traiçoeiro.

“[...]'Stamos em pleno mar... Dois infinitos
Ali se estreitam num abraço insano,
Azuis, dourados, plácidos, sublimes...
Qual dos dous é o céu? qual o oceano?
 [...]”

Todos conhecem muito bem a realidade a que os negros foram submetidos no Brasil, por exemplo. Castro Alves o soube muito bem e nas asas do Albatroz acompanhou o Navio:

“[...] Homens do mar! ó rudes marinheiros,
Tostados pelo sol dos quatro mundos!
Crianças que a procela acalentara
No berço destes pélagos profundos!
Esperai! esperai! deixai que eu beba
Esta selvagem, livre poesia
Orquestra — é o mar, que ruge pela proa,
E o vento, que nas cordas assobia...
Por que foges assim, barco ligeiro?
Por que foges do pávido poeta?
Oh! quem me dera acompanhar-te a esteira
Que semelha no mar — doudo cometa!
Albatroz! Albatroz! águia do oceano,
Tu que dormes das nuvens entre as gazas,
Sacode as penas, Leviathan do espaço,
Albatroz! Albatroz! dá-me estas asas.[…]”


E por meio de um dos mais conhecidos poemas da Literatura Brasileira, Castro Alves denunciou tal realidade imoral em O Navio Negreiro:

“[...]Era um sonho dantesco... o tombadilho
Que das luzernas avermelha o brilho.
Em sangue a se banhar.
Tinir de ferros... estalar de açoite...
Legiões de homens negros como a noite,
Horrendos a dançar...
Negras mulheres, suspendendo às tetas
Magras crianças, cujas bocas pretas
Rega o sangue das mães:
Outras moças, mas nuas e espantadas,
No turbilhão de espectros arrastadas,
Em ânsia e mágoa vãs!
E ri-se a orquestra irônica, estridente...
E da ronda fantástica a serpente
Faz doudas espirais ...
Se o velho arqueja, se no chão resvala,
Ouvem-se gritos... o chicote estala.
E voam mais e mais...
Presa nos elos de uma só cadeia,
A multidão faminta cambaleia,
E chora e dança ali!
Um de raiva delira, outro enlouquece,
Outro, que martírios embrutece,
Cantando, geme e ri!
No entanto o capitão manda a manobra,
E após fitando o céu que se desdobra,
Tão puro sobre o mar,
Diz do fumo entre os densos nevoeiros:
"Vibrai rijo o chicote, marinheiros!
Fazei-os mais dançar!..."
E ri-se a orquestra irônica, estridente. . .
E da ronda fantástica a serpente
Faz doudas espirais...
Qual um sonho dantesco as sombras voam!...
Gritos, ais, maldições, preces ressoam!
E ri-se Satanás!

[…]

Existe um povo que a bandeira empresta
P'ra cobrir tanta infâmia e cobardia!...
E deixa-a transformar-se nessa festa
Em manto impuro de bacante fria!...
Meu Deus! meu Deus! mas que bandeira é esta,
Que impudente na gávea tripudia?
Silêncio. Musa... chora, e chora tanto
Que o pavilhão se lave no teu pranto! ...
Auriverde pendão de minha terra,
Que a brisa do Brasil beija e balança,
Estandarte que a luz do sol encerra
E as promessas divinas da esperança...
Tu que, da liberdade após a guerra,
Foste hasteado dos heróis na lança
Antes te houvessem roto na batalha,
Que servires a um povo de mortalha!...
Fatalidade atroz que a mente esmaga!
Extingue nesta hora o brigue imundo
O trilho que Colombo abriu nas vagas,
Como um íris no pélago profundo!
Mas é infâmia demais! ... Da etérea plaga
Levantai-vos, heróis do Novo Mundo!
Andrada! arranca esse pendão dos ares!
Colombo! fecha a porta dos teus mares![...]”
E as portas foram fechadas. A Lei Eusébio de Queirós é promulgada em 1850, assim como diversas outras posteriormente, como a Lei Áurea.

Posteriormente, nos EUA a organização racista criminosa Klu Klux Klan assassinava negros nas ruas. Aquele velho “darwinismo social” que dividia as pessoas com base na cor não havia acabado, a mentalidade de superioridade da raça ariana ainda vigorava, mas não por muito tempo.
Em 1955, Rosa Parks, uma mulher negra, se recusou frontalmente a ceder seu lugar num ônibus para uma mulher branca e foi presa. Tal notícia representa o princípio de um grandioso movimento negro em busca da liberdade e da igualdade.
O pastor protestante Martin Luther King Jr. é um dos representantes de tal luta, influenciado pelo pacifismo de Mahatma Gandhi foi um grande homem, e inclusive recebeu o Prêmio Nobel da Paz. Foi também o locutor de um dos mais brilhantes discursos que a humanidade já teve o prazer de ouvir, “Eu tenho um sonho”, certamente um texto que prova a inexorabilidade daquilo que Castro Alves havia feito em O Navio Negreiro.
Juntamente com Martin Luther King Jr., outros se manifestaram, dentre eles Malcom X, o Partido dos Panteras Negras, o movimento “Black is Beautiful”.

Na música, Paul McCartney e John Lennon compõem “Blackbird”, música gravada na gravada na Abbey Road Studios, a qual o caro leitor poderá escolher que versão ouvir:
http://www.youtube.com/watch?v=P5CUHHGlQg0 – Versão The Whithe Album dos Beatles, de 1968, gravada com o canto de um autêntico melro-preto
http://www.youtube.com/watch?v=RDxfjUEBT9I – Versão em Show de Paul McCartney em 2004.

Somos uma única raça, a raça humana.

Força de Transformação

A história da humanidade é tecida diariamente, de acordo com Max Weber, ela é multilinear; ou seja, há inúmeras possibilidades de trajetórias. Trajetórias, as quais são definidas pelas nossas - de cada ser humano - ações.
É exatamente nesse ponto que se revela a importância da crítica, do questionar àquilo que é tradicional, que é aceito pela maioria ou que é imposto. O ser humano por meio da racionalidade tem a capacidade de mudar, mesmo que seja difícil ou incômodo, é necessário mudar.
[Vale indicar o texto de Rubem Alves, "O que é científico", para os leitores interessados. O pequeno texto diz respeito a necessidade de duvidar e o perigo que a certeza representa. Lembrando que os maiores facínoras constituíram-se como tal porque tinham muita certeza do que acreditavam ao ponto de aquele que não concordar poder ser aniquilado.]

Portanto, publicamos algumas imagens de movimentos sociais que marcaram e marcam o mundo contemporâneo. Alguns "cliques" do motor histórico:



Jan Dago

4 de Fevereiro de 2012. Cairo, Egito.
Manifestação pacífica da oposição à liderança de Hosni Mubarak, a qual tornou-se violenta no fim de janeiro, início de fevereiro, quando a Tahrir Square foi invadida e os manifestantes atacados.



Guillaume Herbaut
13 de Outubro de 2011. Kiev, Ucrania.

Inna Shevchenko (21) líder do Femen, grupo de protestos ucraniano que organiza manifestações contra o turismo sexual, a industria do sexo e o divórcio pela internet. O grupo já foi acusado de que seus métodos provocativos minam os valores de seus movimentos, no entanto elas afirmam que se fizessem protestos simples com banners, suas vozes não seriam ouvidas.






Manifestação do Greenpeace por ocasião da Conferência Rio+20 considerada um "fracasso completo" pelo diretor-geral Kumi Naidoo. O documento final negociado foi rejeitado por sua falta de metas concretas e prazos.

[Vale a indicação: Discurso de Severn Suzuki na ECO-92 - http://www.youtube.com/watch?v=5g8cmWZOX8Q]



A Crítica Social manifesta-se nos protestos, ela constitui um clamor por mudança.

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Sobre navios negreiros e camburões


Todo camburão tem um pouco de navio negreiro

Tudo começou quando a gente conversava 


Naquela esquina alí 
De frente àquela praça 
Veio os zomens 
E nos pararam 
Documento por favor 
Então a gente apresentou 
Mas não paravam 
Qual é negão? Qual é negão? 
O que que tá pegando? 
Qual é negão? Qual é negão? 

É mole de ver 
Que em qualquer dura 
O tempo passa mais lento pro negão 
Quem segurava com força a chibata 
Agora usa farda 
Engatilha a macaca 
Escolhe sempre o primeiro 
Negro pra passar na revista 
Pra passar na revista 

Todo camburão tem um pouco de navio negreiro 
Todo camburão tem um pouco de navio negreiro 

É mole de ver 
Que para o negro 
Mesmo a AIDS possui hierarquia 
Na África a doença corre solta 
E a imprensa mundial 
Dispensa poucas linhas 
Comparado, comparado 
Ao que faz com qualquer 
Figurinha do cinema 
Comparado, comparado 
Ao que faz com qualquer 
Figurinha do cinema 
Ou das colunas socias 
Todo camburão tem um pouco de navio negreiro
Todo camburão tem um pouco de navio negreiro



Essa música, da banda O Rappa, composta pelo vocalista Falcão carrega uma crítica social relacionada aos negros no Brasil. O refrão traz de maneira genial a relação entre os navios negreiros na época do tráfico de escravos africanos e o camburão da polícia hoje em dia, que muitas vezes carrega infratores que não tiveram nenhuma oportunidade de estudar ou desenvolver qualquer atividade legal para criar seu próprio sustento. Muitas vezes, esses são negros, herdeiros do sistema escravista que vigorou no Brasil até a segunda metade do século XIX. Isso porque a mobilidade social desta classe é muito pequena, posto que o sistema capitalista e o Estado não dão brechas as ascensão desta gente. Gente que foi massacrada pela história, que lutou e que sofreu aculturação por parte do europeu. Gente essa que rezava o terço a tarde e 'batia o tambor' a noite. Para nós do século XXI é difícil entender o que é isso, o que é ser obrigado a viver em outra cultura porque nunca sofremos com isso.
 Falcão, na primeira estrofe, mostra o preconceito que existe até hoje com os negros na sociedade retratando uma cena típica com policiais parando negros pedindo documentos e os intimando. Na segunda estrofe ele retrata a pouca importância que a imprensa, principalmente, dá para problemas como a AIDS no continente Africano.
 Assim como nos versos românticos, principalmente de poetas da terceira geração, critica-se a sociedade, em diversos aspectos.

O poeta "louco"

Joaquim de Sousa Andrade, nascido na vila de Guimarães, no Maranhão, formou-se em Letras pela Sorbonne, em Paris, onde fez também o curso de engenharia de minas. Republicano convicto e militante, transfere-se, em 1870, para os Estados Unidos. Morando em Nova Iorque, funda o periódico republicano "O Novo Mundo", publicado em português. Retornando ao Maranhão, comemora com entusiasmo a Proclamação de República. Dedica-se ao ensino de Língua Grega no Liceu Maranhense e passa, no final da vida, por enormes dificuldades financeiras. Morre em São Luís, abandonado, na miséria e considerado louco. Sua obra foi esquecida durante décadas. Resgatada no início da década de 1960, pelos poetas Augusto e Haroldo de Campos, revelou-se uma das mais originais e instigantes de todo o nosso Romantismo. Em Nova Iorque, publica sua maior obra, o poema longo O Guesa Errante (1874/77), em que utiliza recursos expressivos, como a criação de neologismos e de metáforas vertiginosas, que só foram valorizados muito depois de sua morte. É patrono da cadeira 18 da Academia Maranhense de Letras.

O Guesa errante canto I- Sousândrade

Eia, imaginação divina! 
Os Andes 
Vulcânicos elevam cumes calvos, 
Circundados de gelos, mudos, alvos, 
Nuvens flutuando – que espetac’los grandes! 
Lá onde o ponto do condor negreja, 
Cintilando no espaço como brilhos 
D’olhos, e cai a prumo sobre os filhos 
Do lhama descuidado; onde deserto, 
O azul sertão, formoso e deslumbrante, 
Arde do sol o incêndio, delirante 
Coração vivo em céu profundo aberto! 
“Nos áureos tempos, nos jardins da América 
Infante adoração dobrando a crença 
Ante o belo sinal, nuvem ibérica 
Em sua noite a envolveu ruidosa e densa. 
“Cândidos Incas! Quando já campeiam 
Os hérois vencedores do inocente 
Índio nu; quando os templos s’incendeiam, 
Já sem virgens, sem ouro reluzente, 
“Sem as sombras dos reis filhos de Manco, 
Viu-se… (que tinham feito? e pouco havia 
A Fazer-se…) num leito puro e branco 
A corrupção, que os braços estendia! 
“E da existência meiga, afortunada, 
O róseo fio nesse albor ameno 
Foi destruído. Como ensaguentada 
A terra fez sorrir ao céu sereno! 
“Foi tal a maldição dos que caídos 
Morderam dessa mãe querida o seio, 
A contrair-se aos beijos, denegridos, 
O desespero se imprimi-los veio, - 
“Que ressentiu-se verdejante e válido, 
O floripôndio em flor; e quando o vento 
Mugindo estorce-o doloroso, pálido, 
Gemidos se ouvem no amplo firmamento! 
“E o sol, que resplandece na montanha 
As noivas não encontra, não se abraçam 
No puro amor; e os fanfarrões d’Espanha, 
Em sangue edêneo os pés lavando, passam.


Analisando a poesia acima, é possível perceber que a crítica feita pelo poeta extravasa o campo brasileiro e se volta para a América Latina como um todo, denunciando as explorações feitas pelos colonizadores luso-espanhois quando aqui chegaram. Estes, preocupados só em explorar as riquezas naturais, devastaram tudo e todos que aqui se encontravam. Desestabilizaram toda uma organização político-econômica que havia nos impérios e derramaram o sangue de sua gente por terra. Os sobreviventes eram escravizados e humilhados: destruíam sua própria terra a mando de quem matara seus familiares e compatriotas. Uma total falta de humanidade que se percebe neste cenário histórico.

É possível perceber também que a poesia, apesar de ser essencialmente condoreira e crítica nesse aspecto, apresenta traços indianistas, como a menção constante a elementos da natureza representada como exuberante e soberana. 

O calar


O eco da senzala
Chega até à casa-grande 
Olhando-se na escuridão 
Vê-se uma luz bruxuleante 
Se de dia, obrigados, 
Adoravam a Maria 
De noite, ó liberdade  
Era hora de Iemanjá 
 
Saudades da casa abandonada 
Depois do mar infinito 
A alma se inunda das lembranças 
Da travessia e seus perigos 
 
Porém, a discrição era vital 
O capataz estava sempre a espreita 
Qualquer suspeita de burburinho  
Dizimaria a senzala inteira 
 
Os boatos de Zumbi 
Chegavam-lhes aos ouvidos 
A esperança de liberdade 
Foi interrompida por gritos 
 Acabara-se a festa 
Só lhes restava rezar. 
Mas a quem o fariam?  
A Maria ou Iemanjá?
(Lucas Amaral)

A poesia acima critica dois pontos que estão entrelaçados: o primeiro, a repressão aos escravos quando tentavam manifestar sua própria cultura. Tinham que fazê-lo às escondidas senão sofreriam duras punições, como chibatadas ou até pior. O segundo ponto é que, em decorrência desta proibição que engloba suas religiões e da obrigação dos patrões a que seguissem o catolicismo, criou-se um sincretismo religioso que perdura até os dias de hoje.

A escravidão a que a liberdade nos submete

 Liberalismo. Eis o sistema político-econômico que era considerado ideal, a utopia. Com ele já não seria necessário evoluir mais, o homem havia chegado ao ápice do desenvolvimento em todas as suas vertigens, o próprio nome já provem da palavra “liberdade”. Todos tinham seus direitos naturais, a opressão que era imposta pela Igreja, já não vigorava mais. Todos agora nasciam iguais, já não havia mais a idéia de um clero e uma nobreza dominante que nascia privilegiada e morria privilegiada deixando tais privilégios para seus filhos num ciclo em que os maiorais eram maiorais e assim seria, enquanto os menos abastados deveriam lutar sem esperança de alcançar muita coisa. Agora, cada um conquistaria o que quisesse baseado no seu esforço, e na sua racionalidade. Tudo um grande erro.
Muitas pessoas possuem uma ideia errada do liberalismo. Um dos erros mais cometidos é o de pensar que o liberalismo era um movimento somente político e econômico, quando na verdade era muito mais que isso: se estendia a campos sociais, religiosos e outros mais, que favoreciam a burguesia que vivia seu apogeu à época, com as diversas revoluções. Outro e talvez o mais grave seja pensar que o liberalismo, perdoe-me a redundância, é de fato liberal, sem escravidão e com a liberdade a todos. E não era. 

  Em um dado momento na História, a burguesia não tinha o crédito que lhes era devido, ficavam em segundo, talvez terceiro plano. Entretanto, por não concordarem, negaram a submissão e revolucionaram a sociedade, trouxeram idéias grandiosas e impactantes para o povo. A burguesia estava na moda, era a classe social do momento. Os maiorais. Dominavam. Justiça era o que eles traziam. Mas a pergunta é: até onde os burgueses eram tão justos? Enquanto se é subordinado o homem enxerga tudo, ele consegue notar todos os erros cometidos pelos que estão acima dele, os denunciam. Mas ao chegarem no lugar de destaque, quando já não são mais subordinados, se tornam cegos. As virtudes da justiça e benevolência lhes é subtraída, e passam a governar como os outros, porém com maior sagacidade, sem cometer os mesmos erros, ou talvez cometendo-os ocultamente. Escravidão, é este o assunto a que se dirige este texto. 
  Talvez o ponto em que a teoria e a prática liberal mais tenham se afastado, seja na questão escravista. Os americanos, considerados filhos da liberdade, eram os mais contraditórios nesse ponto: enquanto pregavam a liberdade e igualdade a todos, possuíam escravos infindos em suas propriedades. Entretanto, não só os americanos tinham essas práticas. O inglês John Locke, o “pai do liberalismo”, enquanto proclamava suas ideias de liberdade política e econômica, era escravista declarado. 
  Então nos fazemos a pergunta que todas as pessoas se fazem ao entrar em contato com a realidade liberal: Por quê? A resposta não é tão demorada.
O liberalismo, como sabemos, abrangeu várias áreas diferentes. Na economia, pregava o fim da concessão de monopólios e o término da intervenção real na economia, o que dinamizaria a concorrência, levando a uma redução de preços. Defendia também o livre comércio internacional entre países e o fim do colonialismo, já que estes não favoreciam aos interesses burgueses, já que consistia numa espécie de monopólio nacional da metrópole na colônia. Na parte política, propunha o fim do Antigo Regime, a adoção de uma constituição e a representatividade, em que o povo escolhia pelo voto seus representantes através do voto. Além disso, desejavam a divisão em três poderes a fim de evitar a concentração de poder nas mãos de uma única pessoa, como ocorria no absolutismo. No campo religioso, pregavam a liberdade religiosa e não mais o cristianismo reinando absoluto, o que também favorecia aos burgueses, já que a Igreja era contra as práticas destes como empréstimos bancários e eram, em sua maioria, protestantes. 
  Com isso a última que nos resta é a parte social, talvez a principal. Esta consistia nos ideais de que o homem é uma tabula rasa ao nascer (sem distinção de classes como nas épocas anteriores), possuindo todos os mesmos direitos civis e oportunidades. Entretanto, as distinções são constituídas a partir dos direitos políticos, conquistados ao longo da nossa vida, de acordo com o mérito do indivíduo. Também diz que os seres humanos têm três direitos básicos: à vida (por isso são contrários ao aborto e à pena de morte), à liberdade e à propriedade. 
  Pregou-se que todos eram livres, mas e os negros? Não eram inclusos neste “todos”? O Liberalismo teoricamente é um modelo realmente utópico, porém é difícil de ser aplicado. Considerando-se que os governantes querem o melhor para si, o povo não é como uma mula, que come tudo que lhe é dado, sem enxergar tais coisas. Desde o inicio do Liberalismo não houve o sentimento de revolução para com as contrariedades que oprimem os marginalizados. Prova disto é que até hoje, ainda existe a escravidão. Pensa-se que é livre, que os erros cometidos no passado já foram corrigidos. Não. Na China, por exemplo, há crianças que trabalham arduamente por horas e horas em troca de insignificâncias. Parece que ser humano tem um erro genético que não lhe permite olhar para os outros desde o momento que lhe é dado poder. Poucos têm a virtude de se manter íntegros em meio a tais circunstancias. 
  Eis o que Eusébio de Queirós falou à Câmara em 1852 em relação à escravidão no Brasil:
"Senhores, se isso fosse crime, seria um crime geral no Brasil; mas eu sustento que, quando em uma nação todos os partidos políticos ocupam o poder, quando todos os seus homens políticos têm sido chamados a exercê-lo, e todos eles são concordes em uma conduta, é preciso que essa conduta seja apoiada em razões muito fortes; impossível que ela seja um crime, e haveria temeridade em chamá-la um erro!" 
  Quando foi posto a prova sobre os ideais liberalistas pelo Parlamento, que afirmava que os americanos eram contraditórios já que pregavam a liberdade de indivíduos enquanto possuíam escravos, Benjamin Franklin já tinha uma resposta convincente ao pensamento da época. Ao ter seus compatriotas insultados de “... tirânico, tão inimigo da liberdade como é o vosso quando isto lhe convém”, alegou que segundo as ideias liberalistas, os escravos não eram considerados pessoas, mas sim propriedades de seus patrões, tais como são as máquinas, e que portanto não se enquadram nos que têm direitos. Com isso, um homem que mata um escravo, não estaria atentando contra o direito à vida, não sendo preso, mas apenas pagaria uma indenização ou teria que ressarcir o outro indivíduo. Os Estados Unidos se beneficiavam com a escravidão à época porque realizavam o Comércio Triangular entre EUA, Caribe e o norte africano, sendo uma das mercadorias participantes os escravos.
  Como dizia W.E.B. Du Bois, “It was freedom to destroy freedom”. Era liberdade destruindo a liberdade. Liberdade é para todos, não só para alguns. Enquanto o povo assumir o posto de acomodação, continuará a ser vilipendiado. A liberdade só vem com luta contínua, luta por direitos. Que o povo enxergue o que lhes é tirado, que a revolução volte a pairar pelo ar ao ponto de contaminar os pulmões dos indignados e inconformados. E que quando estes revolucionários chegarem ao poder, que eles não cometam o mesmo erro, mas caso cometam. Revolução novamente. Ninguém tem o direito de tirar o direito alheio. É neste espiral que é tecida a História. 
  Assim como mesmo depois de tanta luta, guerras e revoluções ainda não havia igualdade, ainda havia escravos, hoje a sociedade ainda é regida com desigualdade. Tal estigma prendia o negro nas correntes da escravidão. A desculpa dada era a de que o escravo não era um homem, era uma coisa. Não à coisificação dos homens.

Texto produzido no ano de 2011 pelo nosso grupo na Oficina de História a respeito do Liberalismo e suas facetas.








Palavras de um sírio:

“Desde a infância nós fomos ensinados a ficar calados, mesmo quando tentávamos agir corretamente, mesmo se estivéssemos declarando o óbvio enquanto ninguém o dizia.

Por muito tempo isto nos dominou, fomos criados sob o medo, o medo de que caso disséssemos algo poderíamos terminar como desconhecidos da história e banidos. Temíamos nosso governo, temíamos os gorilas do governo, e ainda temos medo dos crimes de ambos, mas não temos mais medo de falar e é isso que mais os aterroriza. É por isso que pessoas em toda a Síria são mortas e torturadas diariamente, porque elas falaram, elas disseram o que queriam e o que acreditavam.
Que o mundo saiba que a Síria está sangrando porque a Síria está lutando por liberdade.”