[Condoreirismo explicação]

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Sobre navios negreiros e camburões


Todo camburão tem um pouco de navio negreiro

Tudo começou quando a gente conversava 


Naquela esquina alí 
De frente àquela praça 
Veio os zomens 
E nos pararam 
Documento por favor 
Então a gente apresentou 
Mas não paravam 
Qual é negão? Qual é negão? 
O que que tá pegando? 
Qual é negão? Qual é negão? 

É mole de ver 
Que em qualquer dura 
O tempo passa mais lento pro negão 
Quem segurava com força a chibata 
Agora usa farda 
Engatilha a macaca 
Escolhe sempre o primeiro 
Negro pra passar na revista 
Pra passar na revista 

Todo camburão tem um pouco de navio negreiro 
Todo camburão tem um pouco de navio negreiro 

É mole de ver 
Que para o negro 
Mesmo a AIDS possui hierarquia 
Na África a doença corre solta 
E a imprensa mundial 
Dispensa poucas linhas 
Comparado, comparado 
Ao que faz com qualquer 
Figurinha do cinema 
Comparado, comparado 
Ao que faz com qualquer 
Figurinha do cinema 
Ou das colunas socias 
Todo camburão tem um pouco de navio negreiro
Todo camburão tem um pouco de navio negreiro



Essa música, da banda O Rappa, composta pelo vocalista Falcão carrega uma crítica social relacionada aos negros no Brasil. O refrão traz de maneira genial a relação entre os navios negreiros na época do tráfico de escravos africanos e o camburão da polícia hoje em dia, que muitas vezes carrega infratores que não tiveram nenhuma oportunidade de estudar ou desenvolver qualquer atividade legal para criar seu próprio sustento. Muitas vezes, esses são negros, herdeiros do sistema escravista que vigorou no Brasil até a segunda metade do século XIX. Isso porque a mobilidade social desta classe é muito pequena, posto que o sistema capitalista e o Estado não dão brechas as ascensão desta gente. Gente que foi massacrada pela história, que lutou e que sofreu aculturação por parte do europeu. Gente essa que rezava o terço a tarde e 'batia o tambor' a noite. Para nós do século XXI é difícil entender o que é isso, o que é ser obrigado a viver em outra cultura porque nunca sofremos com isso.
 Falcão, na primeira estrofe, mostra o preconceito que existe até hoje com os negros na sociedade retratando uma cena típica com policiais parando negros pedindo documentos e os intimando. Na segunda estrofe ele retrata a pouca importância que a imprensa, principalmente, dá para problemas como a AIDS no continente Africano.
 Assim como nos versos românticos, principalmente de poetas da terceira geração, critica-se a sociedade, em diversos aspectos.

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