Todo camburão tem um pouco de navio negreiro
Tudo começou quando a gente conversava
Naquela esquina alí
De frente àquela praça
Veio os zomens
E nos pararam
Documento por favor
Então a gente apresentou
Mas não paravam
Qual é negão? Qual é negão?
O que que tá pegando?
Qual é negão? Qual é negão?
É mole de ver
Que em qualquer dura
O tempo passa mais lento pro negão
Quem segurava com força a chibata
Agora usa farda
Engatilha a macaca
Escolhe sempre o primeiro
Negro pra passar na revista
Pra passar na revista
Todo camburão tem um pouco de navio negreiro
Todo camburão tem um pouco de navio negreiro
É mole de ver
Que para o negro
Mesmo a AIDS possui hierarquia
Na África a doença corre solta
E a imprensa mundial
Dispensa poucas linhas
Comparado, comparado
Ao que faz com qualquer
Figurinha do cinema
Comparado, comparado
Ao que faz com qualquer
Figurinha do cinema
Ou das colunas socias
Todo camburão tem um pouco de navio negreiro
Todo camburão tem um pouco de navio negreiro
Essa música, da banda O Rappa, composta pelo vocalista Falcão carrega uma crítica social relacionada aos negros no Brasil. O refrão traz de maneira genial a relação entre os navios negreiros na época do tráfico de escravos africanos e o camburão da polícia hoje em dia, que muitas vezes carrega infratores que não tiveram nenhuma oportunidade de estudar ou desenvolver qualquer atividade legal para criar seu próprio sustento. Muitas vezes, esses são negros, herdeiros do sistema escravista que vigorou no Brasil até a segunda metade do século XIX. Isso porque a mobilidade social desta classe é muito pequena, posto que o sistema capitalista e o Estado não dão brechas as ascensão desta gente. Gente que foi massacrada pela história, que lutou e que sofreu aculturação por parte do europeu. Gente essa que rezava o terço a tarde e 'batia o tambor' a noite. Para nós do século XXI é difícil entender o que é isso, o que é ser obrigado a viver em outra cultura porque nunca sofremos com isso.
Falcão, na primeira estrofe, mostra o preconceito que existe até hoje com os negros na sociedade retratando uma cena típica com policiais parando negros pedindo documentos e os intimando. Na segunda estrofe ele retrata a pouca importância que a imprensa, principalmente, dá para problemas como a AIDS no continente Africano.
Assim como nos versos românticos, principalmente de poetas da terceira geração, critica-se a sociedade, em diversos aspectos.
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