Eia, imaginação divina!
Os Andes
Vulcânicos elevam cumes calvos,
Circundados de gelos, mudos, alvos,
Nuvens flutuando – que espetac’los grandes!
Lá onde o ponto do condor negreja,
Cintilando no espaço como brilhos
D’olhos, e cai a prumo sobre os filhos
Do lhama descuidado; onde deserto,
O azul sertão, formoso e deslumbrante,
Arde do sol o incêndio, delirante
Coração vivo em céu profundo aberto!
“Nos áureos tempos, nos jardins da América
Infante adoração dobrando a crença
Ante o belo sinal, nuvem ibérica
Em sua noite a envolveu ruidosa e densa.
“Cândidos Incas! Quando já campeiam
Os hérois vencedores do inocente
Índio nu; quando os templos s’incendeiam,
Já sem virgens, sem ouro reluzente,
“Sem as sombras dos reis filhos de Manco,
Viu-se… (que tinham feito? e pouco havia
A Fazer-se…) num leito puro e branco
A corrupção, que os braços estendia!
“E da existência meiga, afortunada,
O róseo fio nesse albor ameno
Foi destruído. Como ensaguentada
A terra fez sorrir ao céu sereno!
“Foi tal a maldição dos que caídos
Morderam dessa mãe querida o seio,
A contrair-se aos beijos, denegridos,
O desespero se imprimi-los veio, -
“Que ressentiu-se verdejante e válido,
O floripôndio em flor; e quando o vento
Mugindo estorce-o doloroso, pálido,
Gemidos se ouvem no amplo firmamento!
“E o sol, que resplandece na montanha
As noivas não encontra, não se abraçam
No puro amor; e os fanfarrões d’Espanha,
Em sangue edêneo os pés lavando, passam.
Analisando a poesia acima, é possível perceber que a crítica feita pelo poeta extravasa o campo brasileiro e se volta para a América Latina como um todo, denunciando as explorações feitas pelos colonizadores luso-espanhois quando aqui chegaram. Estes, preocupados só em explorar as riquezas naturais, devastaram tudo e todos que aqui se encontravam. Desestabilizaram toda uma organização político-econômica que havia nos impérios e derramaram o sangue de sua gente por terra. Os sobreviventes eram escravizados e humilhados: destruíam sua própria terra a mando de quem matara seus familiares e compatriotas. Uma total falta de humanidade que se percebe neste cenário histórico.
É possível perceber também que a poesia, apesar de ser essencialmente condoreira e crítica nesse aspecto, apresenta traços indianistas, como a menção constante a elementos da natureza representada como exuberante e soberana.
O condor cantava na calçada. As pessoas, incomodadas, afastavam-no. "Condor não canta. Ele voa." Então, ele voou. Voou alto. Voou para a liberdade. O condoreirismo tem esse nome em referência a esta ave de rapina. O que faz dele especial? As aves de rapina, tais como os poetas desta época com suas críticas, incomodavam a muitos. Porém, o condor é especial: é destas a que voa mais alto, o mais majestoso, simbolizando o desejo pela liberdade a que estes poetas estavam atrelados.
[Condoreirismo explicação]
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